A EXTENSÃO DO PRAZO DE VALIDADE DE PATENTES COMO UMA DAS CAUSAS DA JUDICIALIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS NO BRASIL
PIDCC, Aracaju/Se, Ano VIII, Volume 13 nº 01, p.240 a 276 Fev/2019 | www.pidcc.com.br
A EXTENSÃO DO PRAZO DE VALIDADE DE PATENTES COMO UMA DAS CAUSAS DA JUDICIALIZAÇÃO DE MEDICAMENTOS NO BRASIL
RAFAELLA DIAS GONÇALVES
RESUMO | ABSTRACT | ABSTRACTO| RESUMEN
À revelia da disponibilidade de recursos materiais e humanos sob a averiguação prévia orçamentária, o poder judiciário, de há muito no Brasil, vem arrogando uma legitimidade constitucional para o controle e intervenção nas políticas públicas nos casos em que considera o governo omisso à concretização da saúde para o fornecimento de medicamentos não distribuídos por meio do SUS. Desse modo, o fenômeno da judicialização de medicamentos, cada vez mais fortalecido na interpretação da fundamentalidade da saúde por efeito imediato, se opera em números já contundentes de ações judiciais no país, camuflando um êxito no domínio da proteção à saúde. Tal, reflete a ineficiência de políticas públicas confiadas ao Poder Legislativo e Executivo brasileiro, o que pode ser observado com mais clareza quando na análise interdisciplinar do fenômeno da judicialização com o estudo de outros subsistemas. Dentre este feixe de subsistemas, objetiva-se, pois, analisar que embora o monopólio temporário de patentes tenha guarida constitucional e a propriedade intelectual constitua incentivo ao investimento e inovação de medicamentos, a extensão do prazo de validade de patentes, consagrada no ordenamento jurídico brasileiro, impede a entrada de genéricos no mercado de medicamentos que já deveriam estar sob o domínio público, contribui com o avolumar jurisprudencial por força da então judicialização de medicamentos: um entrave para o poder judiciário brasileiro, um desequilíbrio nas contas públicas, na medida em que se reveste de modelo paliativo que desvia forçosamente verbas não negligenciáveis universalizadas na dotação orçamentária para atender imposições concretas.
Palavras-Chave: Judicialização de Medicamentos. Propriedade Intelectual. Extensão de patentes farmacêuticas.
In spite of the availability of material and human resources under previous budgetary research, the judiciary, long in Brazil, has arrogated a constitutional legitimacy to control and intervene in public policies in cases in which it considers the government to fail to achieve health for the supply of medicines not distributed through SUS. In this way, the phenomenon of the judicialization of medicines, increasingly strengthened in the interpretation of the fundamentality of health by immediate effect, operates in already strong numbers of lawsuits in the country, camouflaging a success in the field of health protection. This reflects the inefficiency of public policies entrusted to the Brazilian Legislative and Executive Power, which can be observed more clearly when in the interdisciplinary analysis of the phenomenon of judicialization with the study of other subsystems. The aim of this subsystem is to analyze that although the temporary monopoly of patents has a constitutional guarantee and intellectual property constitutes an incentive for the investment and innovation of drugs, the extension of the period of validity of patents, enshrined in the Brazilian legal system , prevents the entry of generics in the market of medicines that should already be in the public domain, contributes to the increase of jurisprudence due to the then judicialization of medicines: an obstacle to the Brazilian judiciary, an imbalance in public accounts, to the extent that is a palliative model that forcibly diverts non-negligible universalized funds from the budget to meet specific demands.
Keywords: Judicialization of Medications. Intellectual property. Extension of pharmaceutical patentes.
En cuanto a la disponibilidad de recursos materiales y humanos bajo la investigación previa presupuestaria, el poder judicial, desde hace mucho en Brasil, viene arrogando una legitimidad constitucional para el control e intervención en las políticas públicas en los casos en que considera al gobierno omiso a la concreción de la salud para el suministro de medicamentos no distribuidos por medio del SUS. De este modo, el fenómeno de la judicialización de medicamentos, cada vez más fortalecido en la interpretación de la fundamentalidad de la salud por efecto inmediato, se opera en números ya contundentes de acciones judiciales en el país, camuflando un éxito en el dominio de la protección a la salud. Tal, refleja la ineficiencia de políticas públicas confiadas al Poder Legislativo y Ejecutivo brasileño, lo que puede ser observado con más claridad cuando en el análisis interdisciplinario del fenómeno de la judicialización con el estudio de otros subsistemas. En el presente trabajo se analizan los resultados obtenidos en el análisis de los resultados obtenidos en el análisis de los resultados obtenidos, , impide la entrada de genéricos en el mercado de medicamentos que ya deberían estar bajo el dominio público, contribuye con el avolumar jurisprudencial en virtud de la entonces judicialización de medicamentos: un obstáculo para el poder judicial brasileño, un desequilibrio en las cuentas públicas, en la medida en que se reviste de modelo paliativo que desvía forzosamente fondos no despreciables universalizados en la dotación presupuestaria para atender imposiciones concretas.
Palabras clave: Judicialización de Medicamentos. Propiedad intelectual. Extensión de patentes farmacéuticas.
Mots-clés: Judiciarisation des médicaments. Propriété intellectuelle. Extension des brevets pharmaceutiques.
REFERÊNCIAS
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São Paulo: Malheiros, 2008
BARBOSA, Denis Borges. A propriedade intelectual no século XXI: estudos de Direito. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009
BARROS, Carla Eugenia Caldas. Manual de Direito da Propriedade Intelectual, Evocati: Aracaju, 2007.
BARROS, Carla Eugenia Caldas. Aperfeiçoamento e Dependência em Patentes, Lumen Juris: Rio de Janeiro, 2004
BAKER, Dean, JEYADEV Arjun, STIGLITZ, Joseph E. (2017) Inovação, Propriedade Intelectual e Desenvolvimento: Um conjunto melhor de abordagens para o século 21. (Traduzido por James Tibúrcio). accessibsa, p. 10. Disponível em http://accessibsa.org/arguments-port/ Acesso em 03 de janeiro de 2018
BASSO, Maristela. Comentário ao art. 5º, XXIX. in: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L.(coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013
BILCHITZ, David - Poverty and Fundamental Rights, New York, 2007
BRUNNER, Georg. Die Problematik der sozialen Grundrechte. In: Rechtund Staar Nr. 404-405, J. C. B. Mohr (Paul Siebeck), Tubingen, 1971
CALABRESI, Guido e BOBITTI, Philiph - Tragic Choices, W. W. Norton & Company, Nova York, 1978
CANOTILHO, Gomes J.J, Para uma Revisão da Dogmática da Jusfundamentalidade, in “Estudos em Homenagem a Antonio Barbosa de Melo”, Coimbra, Almedina, 2013
CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Propriedade Industrial, 3ª. Edição, anotado por Newton Silveira e Denis Borges Barbosa, Lumen Juris, 2010, vol. II, no. 159
DÓRIA, R. Evolução do Padrão de Consumo das Famílias Brasileiras no Período 2003-2009 e Relações com a Distribuição de Renda. [Dissertação de Mestrado] Programa de Pós-Graduação em Economia, PPGE, do Instituto de Economia – UFRJ/Rio de Janeiro. 2013
GONÇALVES, Luís Manuel Couto, Manual de Direito Industrial: Patentes; Desenhos ou Modelos; Marcas; Concorrência Desleal, 2ª ed., Coimbra, Almedina, 2008
GONÇALVES, Rafaella Dias, PIDCC, Aracaju/Se, Ano VII, Volume 12 nº 03, p.046 a 081 Out/2018
HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia – entre facticidade e validade. vol. I. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003
KING, Jeff – Juding Social Rights, Cambridge University Press, 2012
KRELL, Andreas. Controle judicial dos serviços públicos básicos na base dos direitos fundamentais sociais. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). A Constituição Concretizada – Construindo pontes para o público e o privado. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000
JANNUZZI AHL, VASCONCELLOS AG. Quanto custa o atraso na concessão de patentes de medicamentos para a saúde no Brasil? Cad. Saúde Pública 2017; 33(8):e00206516, doi: 10.1590/0102-311X00206516, 2017
JUNIOR, Jessé Torres Pereira. Comentários à Lei de Licitações e contratações da Administração Pública, São Paulo: Renovar, 2007
JÚNIOR, Sílvio Sobral Garcez e MOREIRA, Jane de Jesus da Silveira: O Backlog de patentes no Brasil: o direito à razoável duração do procedimento administrativo. Revista Direito GV | São Paulo | v. 13 n. 1 | 171-203 | jan-abr 2017
LABRUNIE, Jacques. Direito de patentes: condições legais de obtenção e nulidades. Barueri, 2006
MARQUES, João Paulo Remédio (II), Medicamentos Versus Patentes – Estudos de Propriedade Industrial, 1ª ed., Coimbra, Coimbra Editora
MENDES, Gilmar Ferreira. A Doutrina Constitucional e o Controle de Constitucionalidade como Garantia da Cidadania – Necessidade de Desenvolvimento de Novas Técnicas de Decisão: Possibilidade da Declaração de Inconstitucionalidade sem a Pronuncia de Nulidade no Direito Brasileiro. In: Caderno de Direito Tributário e Finanças Públicas, nº. 3. 1993
MORAES, Alexandre de – Direito Constitucional, 33ª ed., São Paulo, Atlas, 2017
MORAIS, Carlos Blanco de Morais – Curso de Direito Constitucional, Teoria da Constituição em Tempo de Crise do Estado Social, Tomo II, Vol. 2, Coimbra, Coimbra Editora, 2011
NOVAIS, Jorge Reis, Direitos Sociais – Teoria Jurídica dos Direitos Sociais Enquanto Direitos Fundamentais, Coimbra, Wolters Kluwe/Coimbra Editora, 2010
OLSEN, Ana Carolina Lopes. Direitos fundamentais sociais: efetividade frente a reserva do possível. Curitiba: Juruá, 2008
PATOL, J. Bras. Nossa capa: Alexander Fleming e a descoberta da penicilina, Med. Lab. vol.45 no.5 Rio de Janeiro Oct. 2009
SARLET, Ingo Wolgang e SAAVEDRA, Giovani Agostini – Judicialização, Reserva do Possível e Compliance na Área da Saúde -, R. Dir. Gar. Fund, Vitória, v. 18, n.1, 2017
SARLET, Ingo Wolgang e SAAVEDRA, Giovani Agostini – Os Direitos Sociais como Direitos Fundamentais: contributo para um balanço aos vinte anos da Constituição Federal de 1988 – Revista do Instituto de Hermenêutica Jurídica. 20 Anos de Constitucionalismo Democrático – E Agora? Porto Alegre-Belo Horizonte, 2008.
SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 2010
STIGLITZ, Joseph. O preço da desigualdade. (Traduzido por Dinis Pires; rev. Sandra Areias). - 1ª ed., reimp. - Lisboa: Bertrand, 2014
STIMAC, Alexander, The Trans-Pacific Partnership: The Death-Knell of Generic Pharmaceuticals? 49 Vand. J. Transnat'l L. 853 (University Law School, Vanderbilt Journal of Transnational Law), 2016
Sobre o texto:
Texto inserido na PIDCC Volume 13 Nº 01 2019
Informações bibliográficas:
Conforme a NBR 6022 | 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e NBR 6023/2018, este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma: Disponível em: http://pidcc.com.br/br/component/content/article/2-uncategorised/336-a-extensao-do-prazo-de-validade-de-patentes-como-uma-das-causas-da-judicializacao-de-medicamentos-no-brasil
DOI: http://dx.doi.org/10.16928/10.16928/2316-8080.V12N3p.240-276
Acesso em:25/04/2024 | 3:24:53Texto na Íntegra